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Regras de Trânsito no Voo Livre (Brasil e Práticas Internacionais)

Conhecimento importante para evitar acidentes e conflitos no voo livre

Voar livremente de parapente ou asa-delta é emocionante, mas requer disciplina e respeito às regras de tráfego aéreo para garantir a segurança de todos. No Brasil, não existe uma legislação específica detalhando essas regras de prioridade em voo livre; porém, seguimos normas internacionais estabelecidas pela comunidade e órgãos como a Federação Aeronáutica Internacional (FAI) e diretrizes gerais da Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO). A ANAC complementa essas normas por meio do RBAC nº 103, que regula o aerodesporto e exige que o piloto conheça e cumpra as regras operacionais e de uso do espaço aéreogov.br. A seguir, apresentamos as principais regras de trânsito no voo livre – desde a decolagem, passando pelo voo, até o pouso – enfatizando que o conhecimento e cumprimento dessas regras são essenciais para evitar acidentes ou conflitos entre pilotos.

REGRAS NA DECOLAGEM

Antes mesmo de decolar, o piloto deve observar algumas regras de conduta na rampa de lançamento para não atrapalhar outros e já começar o voo em segurança:

  • Equipar-se fora da área de decolagem: Todo piloto deve colocar a selete, checar o velame, vestir capacete, luvas e conectar instrumentos fora do espaço imediato da rampa. Assim, a área de decolagem permanece livre para quem já está pronto para decolar, evitando congestionamento e confusão no local.
  • Minimizar o tempo na rampa: Caso seja inevitável usar a rampa para os preparativos finais, esteja praticamente pronto. Conecte rapidamente quaisquer equipamentos eletrônicos, faça uma última revisão do parapente/asa e decole sem demora.
  • Verificar o tráfego aéreo próximo: Antes de inflar a vela e correr para a decolagem, observe o espaço aéreo à frente e acima. Certifique-se de que não há pilotos em aproximação ou voando baixo logo em frente à rampa. Lembre-se: quem está em voo tem prioridade sobre quem está decolando – se houver alguém vindo, aguarde a passagem para então decolar em segurança.

 

REGRAS EM VOO

 

Durante o voo, principalmente em locais com muitos pilotos (como ramps populares, ascendentes disputadas ou competição), aplicam-se regras internacionais de prioridade amplamente aceitas. Essas regras de tráfego no voo livre derivam em parte das regras gerais de voo (as chamadas “Regras do Ar” do anexo 2 da ICAO) adaptadas para asa-delta e parapente, e do consenso estabelecido pela FAI e pela comunidade de pilotos experientes. Abaixo listamos as sete principais regras de trânsito em voo que todo piloto de voo livre deve conhecer e seguir para evitar colisões:

  1. As curvas em voo de lift são sempre realizadas para fora do relevo.

2. Em voo de lift, ou sempre que próximo ao relevo, quem tem o relevo à direita tem a preferência.

3. Ultrapassagem em voo de lift devem ser evitadas, se necessário deve ser realizada entre o relev e o piloto, alertando o piloto ultrpassado.

4. Ultrapassagens devem ser realizadas pela direita do piloto ultrapassado.

5. Em rotas de convergência tem a preferência o piloto que vem da direita.

6. Em cruzamentos frente a frente, ambos desviam para a direita (salvo se próximo ao relevo).

7. Em térmicas, o piloto que chegar primeiro estabelece a direção do giro e se a razão de subida do piloto mais baixo for superior a do piloto de cima, o piloto de cima deve dar a preferência.

Essas sete regras formam a base do “código de trânsito” do voo livre em todo o mundo. Note que elas valem tanto para parapentes quanto para asas-deltas, e até para outros ultraleves não motorizados. Em suma, antecipação e vigilância constante são necessárias: cada piloto deve não só seguir as regras, mas estar atento à posição e manobras dos outros ao redor, ajustando seu voo para prevenir conflitos no ar.

REGRAS NO POUSO

Por fim, quando chega a hora do pouso, também existem prioridades a serem respeitadas na aproximação final. Assim como no trânsito em terra o veículo que já está na rotatória tem preferência, no voo livre quem já está em fase final de pouso ou mais baixo geralmente possui prioridade sobre quem está mais alto se aproximando. Vamos às diretrizes de pouso seguro e ordenado:

 

  • Prioridade para o piloto mais baixo: Regra básica internacional: o piloto em menor altitude na área de pouso tem o direito de pousar primeiro, pois está mais comprometido – ele possivelmente já esgotou as opções de espera.
  • Equipamentos mais rápidos ou pesados têm preferência relativa: Em práticas internacionais convencionou-se também considerar o tipo de aeronave na fila de pouso. Asa-deltas, por terem maior velocidade de planeio e espaço de tomada de decisão menor, não devem ser forçadas a fazer espera excessiva, sobretudo se dividem área com parapentes. Assim, é consenso dar prioridade de pouso a asa-delta e parapente duplo em relação a parapente solo, desde que, claro, estejam em alturas similares.
  • Comunicação e padrão de circuito: Embora não haja “torre de controle” em nossos pousos, é essencial manter um padrão previsível de circuito (pernas contra o vento, base e final) e comunicação visual. Esteja ciente de outros planando na área de pouso e não corte a frente de alguém na curta final.

Em resumo, no pouso a regra de ouro é: quem está em situação mais crítica (mais baixo, em final) pousa primeiro, e os demais ajustam seu voo para desembocar na final um de cada vez. Sempre mantenha contato visual com outros trafegando na área de pouso e seja conservador – segurança em primeiro lugar.


Considerações Finais: As regras de trânsito do voo livre existem para proteger a todos. No Brasil, mesmo sem uma lei específica detalhando essas prioridades, a comunidade de voo adota plenamente essas normas internacionais, apoiada pelo RBAC 103 da ANAC que reforça a obrigatoriedade de não oferecer risco a outras aeronaves e pessoas. Conhecer e cumprir essas regras é essencial – é o que separa um voo tranquilo de um susto ou acidente anunciado. Portanto, estude-as, observe-as em cada decolagem, em cada térmica e no pouso, e contribua para um ambiente seguro nos céus do voo livre!

Referências: Regras internacionais de prioridade conforme consenso FAI/ICAO. Regulamentação brasileira RBAC nº 103/ANACgov.br. Todas as regras aqui descritas refletem práticas adotadas pela Confederação Brasileira de Voo Livre e escolas de pilotagem, alinhadas ao que é ensinado mundialmente aos pilotos de parapente e asa-delta para evitar conflitos no ar. Voemos sempre com responsabilidade e bons ventos!